O castelo de K.
Depois foi em busca de pousada; na estalagem ainda estavam a pé; o estalajeiro não tinha, é certo, nenhum quarto para alugar; contudo, extremamente surpreendido e embaraçado pelo hóspede tardio, queria deixá-lo dormir na sala, sobre uma enxerga de palha. K. estava de acordo. Alguns aldeões entretinham-se ainda a beber cerveja, mas K. não queria conversar com ninguém, ele mesmo foi buscar a enxerga ao sótão e deitou-se perto do fogão. Ali era quente, os aldeões estavam calados, ele examinou-os ainda um pouco por entre os olhos cansados, depois adormeceu.
Mas passados momentos já o acordavam. Junto dele, com o estalajeiro ao lado, estava um jovem, urbanamente vestido, cara de actor, olhos estreitos, sobrancelhas cerradas. Também os aldeões ainda lá estavam, alguns tinham rodado as cadeiras para melhor poderem ver e ouvir. O jovem pediu muito delicadamente desculpa de o ter acordado, apresentou-se como filho do castelão e disse: - Esta aldeia pertence ao Castelo: quem aqui vive ou pernoita, vive ou pernoita por assim dizer no Castelo. Ora a ninguém isto é permitido sem autorização condal. O senhor, porém, não está de posse de uma tal autorização ou, pelo menos, não a mostrou."
Excerto de O Castelo (Franz Kafka)